sábado, 5 de julho de 2008

ENTREVISTA - Piracicaba História e Memória

Entrevistado: Jair de Souza Palma

Radio Educadora de Piracicaba - 1060 am
28-06-2008 - 10:00 às 11:00 h
João Umberto Nassif - joaonassif@gmail.com

Jair de Souza Palma é piracicabano, nascido no bairro da Vila Rezende em 30 de setembro de 1950. Com um ar tranqüilo, vai aos poucos confessando sua paixão pelo rádio, pela Vila Rezende, por Piracicaba. Tem orgulho em ser católico praticante. Talvez seja o único piracicabano a ter uma Bíblia que traz, na primeira página, uma dedicatória em latim especialmente assinada por João Paulo II. Uma das suas grandes paixões é obter todo o material possível sobre o Papa João Paulo II. Jair confessa ser bairrista, gosta muito de ler, pesquisar, quer conhecer muito a história da Vila Rezende. Fã de música sertaneja, cururu, poema, procura manter a qualidade do seu acervo. Utiliza várias fontes de pesquisas: entre outros os autores: Marly Therezinha Germano Perecim, Pedro Caldari, Olívio Alleoni, Alcides Aldrovandi.

Hoje o senhor está aposentado, qual foi a sua atividade principal?
Trabalhei 38 anos em uma metalúrgica. Iniciei fazendo o café, limpando o escritório e aposentei-me como administrador da empresa. Em 1997 por motivos profissionais, tive a necessidade de aprender a trabalhar com informática. Até então eu dominava a máquina de escrever! Meu cunhado arrumou um monstro de um microcomputador, trouxe até a minha casa, e em três dias, com pequenos intervalos, fizemos um estudo de imersão! A empresa trocou os equipamentos, fui conhecendo mais coisas. Aos poucos fui fazendo progressos.

Colecionador é o blog desenvolvido pelo senhor, alguém o ajudou a construir esse blog?
Eu fiz esse blog sozinho. Dá trabalho! Encontro isso tudo na internet. O fato de ser apaixonado por Piracicaba, além de Vila Rezende, tem assunto sobre Tupi, Santana, te alguma coisa referente a Piracicaba, mas com origem em Rio Claro, Santa Bárbara D`Oeste, praticamente da região, onde falam da mesma maneira minha: com o “érre” puxado! Eu não ganho nada com isso, não tenho publicidade, fiz isso porque muitas coisas do passado recente, os jovens de vinte e poucos anos não conhecem ninguém. Eles sabem que existe uma praça chamada Parafuso, porém sequer sabem quem foi! Nhô Serra foi meu vizinho! Só aqueles que têm um pouco mais de idade é que sabem quem foi Nhô Serra. Essas informações não são propriedades apenas do meu armário, elas devem circular, é fundamental saber da importância das pessoas que construíram a Vila Rezende, Piracicaba. Uns com música, outros com trabalho, com benfeitorias, como Mário Dedini. Pessoas que aqui viveram como Tião Carreiro que fala sobre o Rio Piracicaba. E outros que cantam a cidade como Sérgio Reis, Rolando Boldrim.

Qual é o endereço do blog do senhor?
O endereço é: http//:colecionador-jairministro.blogspot.com

O senhor nasceu em que local da Vila Rezende?
Nasci na Avenida Barão de Valença, próximo á escola Jerônimo Gallo. Sou filho de Lazaro de Souza Palma e minha mãe Tereza Barion de Souza Palma. Aos três anos de idade fui morar lá no Bairro do Pitá. No meio de pita (que se assemelha a um tipo de cizal) mesmo! Era no meio do pasto! A água era tirada de poço, por sinal saloba. Fiquei ali até 1958, quando comecei a freqüentar a escola José Romão. Nessa ocasião mudamos para a Travessa Padre Paiva, onde morei até 1975, época em que casei com a minha esposa Zuleize, nascida em Charqueada.Temos quatro filhos: Alexandre, Simone, Cibele, Adriano. Na época só a Avenida Rui Barbosa era calçada com paralelepípedo. Não havia calçamento nas ruas da Vila Rezende. O dia em que chovia para ir á escola José Romão era um sacrifício. Tinha que ir de galocha, que é um tipo de uma bota de borracha flexível, como se fosse uma luva para ser calçada sobre o sapato. Era para andar no meio do brejo, eu passava pelo meio do Nhô Quim. Quando chegava á escola, tirava os apetrechos, assistia à aula. Na época tive como professor Paulo Domingos Bonilha, do “Seu” Raul, do “Seu” Rufino. Naquela época fui aprender datilografia na escola da Dona Gilda, que ficava na Avenida Rui Barbosa, vizinha ao número 73. Eu trabalhei em um escritório contábil de Luiz Geraldo de Lima Paiva, o saudoso Luizito. Que ficava no número 72 dessa avenida. Meu primeiro trabalho foi na Camisaria Kraide, de Fued Elou Kraide, a gerente nossa lá era a Dona Nair, irmã do “Seu” Kraide. Trabalhei lá dois dias.
Eu não era acostumado a fazer aquilo que hoje normalmente as pessoas fazem principalmente meus filhos fazem: ajudar na limpeza da casa. A Dona Nair mandou que eu fizesse a limpeza no banheiro masculino. Falei: “-Não Dona Nair! Nem na minha casa eu ajudo a minha mãe! Se for assim, eu estou indo embora!” E fui embora mesmo!
Acredito que se tivesse permanecido lá eu seria um costureiro. Na época eu auxiliava o Remo, que jogou no São Paulo Futebol Clube, ele que era o cortador de roupa, montava as camisas. “Seu” Fued falou: “Você vai ficar aqui, irá auxiliá-lo e irá aprender a profissão dele.” O “Seu” Fued era do São Paulo Futebol Clube. Fui trabalhar no escritório do Paiva, depois fui trabalhar no Escritório do Despachante Lucas, do “Seu” Fernando Lucas. Ficava em frente á prefeitura antiga. Foi uma pena derrubarem aquele casarão. Lá foi residência do Barão de Serra Negra. Depois o Barão de Rezende, que era genro do Barão de Serra Negra veio a comprar. Era a casa dele no centro! Até hoje os mais antigos aqui da Vila Rezende falam: “-Eu vou para a cidade!” ou “-Eu vou para o centro”. O Barão de Rezende tinha aqui próximo da minha casa o solar, que era um casarão, que eu também conheci. Era o local aonde ele vinha passar o fim de semana. Só sobrou no local uma palmeira imperial, que não conseguiram derruba-la. Até a pouco tempo eu tinha um caco de azulejo da cozinha dele. Foi a única coisa que sobrou do solar do barão! Além disso, restou a palmeira e a saudade.

Do Escritório Lucas o senhor foi para onde?
Permaneci lá uns dois anos. Eu ganhava 3.000 cruzeiros e pagava para ir trabalhar de bonde 3.600 cruzeiros! Pagava para trabalhar. Minha mãe me dava mais 600 cruzeiros para poder comprar uma carteirinha de passe de bonde. Isso para que eu não ficasse na rua! Nessa época eu tinha entre 12 e 13 anos de idade. O correio ficava na Rua Alferes José Caetano esquina com a Rua Treze de Maio.

O senhor almoçava aonde?
Almoçava em um barzinho que tinha ao lado da Empresa Funerária Libório, onde é um prédio hoje. Eu quase não passava pela calçada da funerária, as urnas ficavam expostas, umas abertas outras fechadas. Evitava em olhar para a loja, procurava sempre olhar para o lado oposto. Onde é o Bradesco hoje existia o Doutor das Canetas. Eu era fanático por caneta tinteiro. Ele que arrumava canetas para mim.

O senhor é um colecionador daquilo que o atraí?
Eu acho que sou um catador de coisas! (Nesse momento, Jair levanta-se, e apanha de uma estante um litro de leite de vidro, daqueles que se usava antigamente. Em perfeito estado de conservação, inclusive com as recomendações sobre a limpeza do litro após ser utilizado e a marca do produto.) Ele explica que esse litro de leite, ganhou de sua mãe. Deve ser do período de 1965 a 1970.

Após trabalhar no escritório de despachante o senhor foi trabalhar onde?
Fui trabalhar na Rádio A Voz Agrícola do Brasil, que ficava na Rua XV, atrás da Catedral, embaixo existe hoje um supermercado. Permaneci lá por quinze dias como sonoplasta. Não gostei muito. Quem me incentivava era o Carlos Cantarelli que foi meu vizinho. Ele queria fazer de mim um engenheiro de som!

O senhor conheceu Vovô Simões?
Fui muito lá! Era um programa de auditório, transmitido do antigo prédio da Radio Educadora de Piracicaba, que ficava na Rua São José com a Rua Governador Pedro de Toledo.

Depois o senhor foi trabalhar onde?
Entrei na Metalúrgica Mantoni, de propriedade de Mario Mantoni. Entrei lá fazendo limpeza, fazendo café e servindo aos clientes.

O senhor como colecionador, iniciou com qual item?
Comecei colecionando lápis. Tinha de todos os modelos. Depois passei a colecionar selos. O “Seu” Carlos do correio da Vila Rezende, que ficava na Avenida Rui Barbosa, onde hoje está a Caixa Econômica Estadual, me incentivou muito para colecionar selos.
Colecionei miniaturas. Quando temos criança em casa é difícil sobrar alguma coisa!

O que a sua esposa acha sobre o senhor ser colecionador?
Ela observava!

O senhor tina um avô e um nonno?
O meu vovô, José de Souza Palma, era filho de bugre. Uma mistura de caboclo com índio, bem do mato. O outro avô, do lado da minha mãe que é descendente de italianos, era o meu nonno (avô em italiano). Quando meu vovô ia á casa dos meus pais eu pegava do bolso dele um cigarro, mais para brincar, eu não fumava na época eu tinha uns doze anos de idade. Ele fumava Mistura Fina, fumou também Fulgor. Um dia eu inventei de acender um cigarro no fundo do quintal de casa.
Deu uma tosse, fiquei atordoado, brigaram comigo. Comecei a fumar escondido. Quando comecei a trabalhar em escritórios, era moda fumar. Também funcionava como uma muleta psicológica.

O senhor colecionava maços de cigarros?
Colecionei. Quando comecei a namorar a minha mulher o meu cunhadinho descobriu que eu tinha essa coleção. Tinha marcas argentinas, paraguaias, chilenas. Era comum naquela época estabelecer correspondência com meninas de outros países. Eu correspondia com uma menina da Espanha que gostava de revistas em quadrinhos. Nós usávamos o “portunhol” e nossas correspondências. Naquela época eu já mexia com rádio amador.

O senhor começou a praticar o rádio amador com que idade?
Praticamente eu nasci no meio de rádio! Com um ano de idade minha mãe contava que quando ia á casa do meu nonno fazia a minha caminha dentro da oficina de rádio. Ele construía rádio. O nome dele era Vicente Antonio Barion. A oficina dele ficava na Rua Dr. Eulálio, na Vila Rezende. Quando foi feita a planta de loteamento pelo Barão de Serra Negra, os nomes colocados nas ruas não foram em decorrência de decretos legais e sim por escolha do próprio barão. Isso foi em 1902. Assim surgiram as Ruas Da. Lídia, Da. Francisca, Dom João Nery, Dr. João Teodoro.

Qual é o seu prefixo no rádio amador?
O meu primeiro rádio eu mesmo construí, foi em 1965 ou 1966. Era o chamado “lambari”, com três válvulas apenas. Sempre gostei muito de eletrônica. Não existia soldador elétrico era aquecido no fogão a lenha. Eu baixei o meu prefixo. Era PY2 ERY.

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